LOGIN: PASSWORD: Novo utilizador | Recuperar Password  
Paradoxo da pedra
Inserido em 2013-05-09  |  Adicionar Comentário

Quando se discute filosoficamente se Deus existe, de que Deus se está a falar? Para a discussão ser procedente e não se gerarem equívocos, convém que ambas as partes discutam sobre o mesmo Deus; por isso, é adequado, logo à partida, caracterizar o Deus que se está a tentar provar ou refutar: se se está a falar, por exemplo, de um Deus teísta (que, além de criador, é omnipotente, omnisciente, bom e pessoa), ou de um Deus deísta (que não é uma pessoa, nem omnipotente, nem omnisciente e bom, apesar de ser criador).

Então, quando os filósofos debatem a existência de Deus, de quem estão a falar? Normalmente falam sobre o Deus teísta que é comum às três religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo, islamismo), ou seja, um ser pessoal, criador, perfeitamente bom, omnisciente e omnipotente.

Mas cada um destes atributos do Deus teísta também é alvo de grande discussão.
                                                                 

 

Serão os próprios atributos de Deus coerentes? Vejamos o caso da omnipotência:

(1) Um ser omnipotente pode fazer tudo.

(2) Assim, se Deus é omnipotente, ou tem o poder de criar uma pedra tão pesada que não a possa levantar, ou não tem esse poder.

(3) Se tem o poder de criar tal pedra, então há algo que Deus não pode fazer: levantar a pedra que criou.

(4) Se não pode criar tal pedra, então há algo que Deus não pode fazer: criar uma pedra tao pesada que não a possa levantar.

(5) Logo, Deus não pode fazer tudo e assim não é um ser omnipotente.


Portanto, vemos que a noção de omnipotência ou de poder fazer tudo é paradoxal, não sendo um atributo que se possa atribuir coerentemente. Como resolver isto? Para não se aceitar a conclusão de que Deus não é omnipotente, é preciso rejeitar uma das premissas. Por exemplo, pode-se colocar em causa a premissa (1) e sustentar, como na tradição que vai de Tomás de Aquino até Alvin Plantinga, que há limites lógicos ao que um ser omnipotente pode fazer. A ideia é que nem mesmo um Deus omnipotente pode criar solteirões casados ou círculos quadrados. Ou seja, existem restrições ao que um ser omnipotente pode fazer, e entre os estados de coisas logicamente impossíveis de fazer também se encontra o criar uma pedra que não possa levantar.

Mas existirão só restrições lógicas à omnipotência? Por exemplo, é logicamente possível que Deus poderia impedir Pedro Passos Coelho de se tornar primeiro-ministro de Portugal, não havendo, assim, medidas de austeridade tão pesadas. Mas será que pode fazer isso agora? Será que um ser omnipotente pode, neste momento (em maio de 2013), fazer com que Pedro Passos Coelho nunca se tivesse tornado primeiro-ministro (em junho de 2011)? Um Deus omnipotente pode mudar o passado? Um estado de coisas em que Pedro Passos Coelho nunca tenha sido primeiro-ministro não é uma impossibilidade lógica, e causar um tal estado de coisas parece completamente compatível com um Deus perfeitamente bom. Contudo, apesar de isto não ser uma impossibilidade lógica, parece que um ser omnipotente não pode agora fazer com que Pedro Passos Coelho nunca tenha sido primeiro-ministro. Portanto, parece haver outras limitações, para além das lógicas, à omnipotência.

Então, afinal o que é um ser omnipotente? Pelo menos uma noção plena de omnipotência, como aptidão para executar qualquer tarefa ou poder para fazer tudo, parece seriamente incoerente.

Mas quais são e como definir as condições necessárias e suficientes de um ser omnipotente?


Domingos Faria

Bookmark and Share