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Consultório de Gramática
Complemento ou modificador?

Inserido em 2012-10-16  |  Adicionar Comentário


Uma das dificuldades mais frequentes quando procedemos à análise sintática de uma frase é a distinção entre complemento e modificador.

 
 
 
1. Comecemos por definir complemento:
 
Um complemento é uma função sintática obrigatória numa frase simples ou complexa.
Os complementos podem ser desempenhados por grupos frásicos, pronomes e orações.

 
 
 

 
 
 

Vejamos os exemplos, nas frases simples seguintes:
 
 
 


Frases

Grupos frásicos destacados

Classificação dos verbos em função dos complementos que selecionam

Funções sintáticas

a) O João analisa o texto.
O João analisa-o.

GN/pronome

Transitivo direto

Complemento direto

b) O Pedro telefona à Maria.
O Pedro
telefona-
lhe.

GPrep/pronome

Transitivo indireto

Complemento indireto

c) A Joana morou em Lisboa.

GPrep

Transitivo indireto

Complemento oblíquo

d) A Maria deu o livro ao Pedro.      

GN + GPrep

Transitivo direto + indireto

Complemento direto e indireto

e) O Pedro colocou o livro na estante.

GN + GPrep

Transitivo direto + indireto

Complemento direto e oblíquo

f) O texto é analisado pelo João.

GPrep


Complemento agente da passiva

 

Os grupos frásicos destacados (1.ª coluna) são obrigatórios porque são selecionados pelos respetivos verbos, visto que todos eles são transitivos – como se pode ver na 3.ª coluna do quadro. Excetua-se o complemento agente da passiva, que resulta da transformação de uma frase ativa em passiva.
Essa obrigatoriedade também é observável se retirarmos os complementos das frases: todas elas ficam agramaticais.

1.1 Nas frases complexas, a função sintática de complemento pode ser desempenhada por uma oração:

Frase complexa

Características do verbo do/da subordinante

A oração é equivalente a um GN ou um pronome

Identificação da oração

Função sintática da oração

a) O Pedro receia que amanhã chova.

Transitivo direto

à pergunta / a isso

Subordinada substantiva completiva

Complemento direto

b) O povo precisa de quem o governe.

Transitivo indireto

de governo/ disso

Subordinada substantiva relativa

Complemento oblíquo

c) O João não respondeu ao que lhe perguntaram.  

Transitivo indireto

a chuva/
isso

Subordinada substantiva relativa

Complemento indireto           


Em qualquer um dos exemplos, as orações destacadas têm obrigatoriamente de constar da frase complexa porque são selecionadas por verbos transitivos. Se os alunos não conhecerem as características dos verbos que as selecionam, basta pedir-lhes que as retirem das frases complexas para verificarem a agramaticalidade das mesmas.


Podemos ainda mostrar-lhes que as funções sintáticas desempenhadas pelas orações destacadas nas frases complexas equivalem a grupos frásicos ou a pronomes, em frases simples (coluna 3).

Frase complexa

Função sintática da oração

Frase simples

Função sintática do grupo frásico destacado

a) O Pedro receia que amanhã chova.         

Complemento direto

a) O Pedro receia a chuva.
O Pedro receia isso.

Complemento direto

b) O povo precisa de quem o governe.

Complemento oblíquo

b) O povo precisa de governo.
O povo precisa disso.

Complemento oblíquo 

c) O João não respondeu ao que lhe perguntaram.

Complemento indireto

c) O João não respondeu à pergunta.
O João não respondeu a isso.

Complemento indireto 


2. Os modificadores, ao contrário dos complementos, são de presença facultativa, isto é, a sua ausência não afeta a gramaticalidade da frase. Ao contrário dos complementos, não são selecionados pelo verbo.
Os modificadores podem ser de frase, de grupo verbal ou de nome. Os modificadores de nome podem ainda ser apositivos e restritivos.
A função sintática de modificador pode ser desempenhada por grupos frásicos e por orações, mas não por pronomes.
Vejamos o quadro seguinte, com modificadores em frases simples:

Frase

Grupo frásico destacado    

Função sintática          

a) De facto, o dia está lindo.

GPrep (de facto)

Modificador de frase

b) Felizmente, os incêndios não atingiram as casas.

GAdv (Felizmente)

Modificador de frase

c) Elas passeiam de carro.

GPrep (de carro)

Modificador de GV

d) O João espirra frequentemente.

GAdv (frequentemente)

Modificador de GV

e) O Pedro analisa o texto em casa.

GPrep (em casa)

Modificador de GV

f) O Pedro telefonou à Maria, ontem.

GAdv (ontem)

Modificador de GV

g) A Joana morou em Lisboa durante o verão.

GPrep (durante o verão)

Modificador de GV

h) A casa da praia sofreu uma inundação.

GPrep (da praia)

Modificador de
nome restritivo

i) O meu primo vive numa casa isolada.

GAdj (isolada)

Modificador de
nome restritivo

j) D. Dinis, o trovador, compôs inúmeras cantigas de amigo.

GN (o trovador)

Modificador de
nome apositivo

k) As flores do meu jardim, belas e perfumadas, são regadas todos os dias.

GAdj (belas e perfumadas)

Modificador de
nome apositivo

 

A função sintática de modificador de frase e de GV é desempenhada, normalmente, por grupos preposicionais e adverbiais. Já o modificador de nome restritivo é desempenhado por grupos preposicionais e adjetivais e o apositivo por grupos nominais e por grupos adjetivais.
Qualquer um dos grupos que desempenhe as funções do quadro anterior pode ser retirado das frases sem que estas percam a sua gramaticalidade.

2.1 Nas frases complexas, os modificadores, tal como os complementos, também podem ser orações.

 

Frase complexa

Identificação da oração

A oração é equivalente a um...

Função sintática do grupo frásico

a) Vou para o estrangeiro, se ganhar bem.

Subordinada adverbial condicional

Advérbio (de frase) = naturalmente

Modificador (de frase)

b) Entrego-te os livros logo que chegues a casa.

Subordinada adverbial temporal

Advérbio (de predicado) = ontem

Modificador (do grupo verbal)

c) O atleta que ganhou a medalha de ouro deixou o país orgulhoso.

Subordinada adjetiva relativa restritiva

Adjetivo (= ganhador)

Modificador do nome restritivo

d) O doente, que se mostrava confiante, entrou na sala de operações.

Subordinada adjetiva relativa explicativa

Adjetivo (= confiante)

Modificador do nome apositivo


À semelhança dos restantes modificadores, qualquer uma das orações destacadas (1.ª coluna) pode ser retirada da frase sem que esta perca a gramaticalidade.
Os alunos perceberão melhor que estas orações são modificadores se as fizermos equivaler aos grupos frásicos que desempenham essa função sintática em frases simples.

Vejamos o quadro:

Frase complexa

Função sintática da oração

Frase simples

Função sintática do grupo frásico destacado

a) Irei para o estrangeiro, se ganhar bem.

Modificador de frase

Naturalmente, irei para o estrangeiro.

Modificador de frase

b) Entrego-te os livros logo que chegues a casa.

Modificador de GV

Entrego-te os livros amanhã.

Modificador de GV

c) O atleta que ganhou a medalha de ouro deixou o país orgulhoso.

Modificador de nome restritivo

O atleta ganhador deixou o país orgulhoso.

Modificador de nome restritivo

d) O doente, que se mostrava confiante, entrou na sala de operações.

Modificador de nome apositivo

- O doente, confiante, entrou na sala de operações.
- O doente entrou, confiante, na sala de operações.

Modificador de nome apositivo



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Comentários (7)
(Comentário mais recente)

Se me permite, a Lígia está, como acontece com vários colegas, a considerar mal a noção de "modificador de frase". O que determina ser modificador de frase não é a possibilidade de se deslocar, isso acontece também com o modificador do grupo verbal. É ser avaliativo, opiniativo. Tal como nos exemplos apresentados nesta grelha, que estão corretíssimos. Encontra uma boa explicação aqui: http://www.ciberduvidas.com/perguntas/get/288076

Mais uma vez, apenas tenho a lamentar o péssimo serviço do nosso ministério e do dgidc, que lançam o dicionário terminológico, com muitos dados incompletos e a precisar de atualização e aprofundamento há muito, deixando para as editoras uma ação que lhes cabia a eles.

[Comentário completo]
Após ter consultado os diversos post relativos à diferenciação entre modificador e complemento, continuo a não entender por que razão os advérbios de predicado com valor locativo e temporal são considerados modificadores do GV e não de frase, já que podem mudar de lugar na frase sem que esta deixe de ser gramatical. Porque são eles considerados avérbios de «predicado» e não de «frase»? [Comentário completo]
Caro colega,
É claro que a tabela estava com a incorreção que assinalou. Agradecemos a sua participação construtiva!

Cordiais saudações.


Muito obrigada pela explicação clara e pelos exemplos elucidativos.
| Enviado Por:
A sistematização está fantástica. Parece-me, no entanto, haver uma imprecisão na última tabela, na primeira coluna, em relação ao exemplo da alínea d), cuja função sintática deve ser Modificador de nome apositivo. Se não estiver correto, gostaria de ter mais informação sobre o motivo de ser consididerado modificador de nome restritivo se a própria relativa é explicativa e, claro, está entre vírgulas. [Comentário completo]
Obrigada aos autores pelo trabalho rigoroso, sintético e sistematizado. Não só os alunos, também nós, em muitos contextos, temos dúvidas. Daí ser um instrumento de trabalho valiosíssimo.
Esta é efetivamente uma nova forma de relacionamento com os professores e com o seu trabalho.
Dulce Raquel
Sintético e de simples compreensão. Irei aplicar em aula, pois os meus jovens alunos confundem os dois conceitos. Obrigada pelo bom trabalho.