Uma das dificuldades mais evidentes nas produções escritas dos alunos é a pontuação. Em geral, o assunto é tratado nos primeiros anos de escolaridade e, nos anos posteriores, dá-se por adquirido que, por ser uma das aprendizagens básicas, eles a dominam com maior ou menor dificuldade.
Na realidade, se tomarmos como exemplo o caso da vírgula, vemos que esse domínio não é tão certo como parece, sobretudo se tivermos em conta que a utilização deste sinal de pontuação tem muito mais que ver com a sintaxe e muito menos com as pausas da oralidade a que é frequentemente associado.
Na sintaxe, os casos mais frequentes de má utilização de vírgula surgem na separação entre sujeito e predicado (quadro 1), entre elementos do sujeito (exemplos 2, 3, 4 do quadro 1) e entre elementos do predicado, como se ilustra no quadro 2.
Quadro 1
Pontuação incorreta |
Pontuação correta |
(1) A ação de formação, realiza-se em setembro. | a) A ação de formação realiza-se em setembro. |
(2) A ação de formação, que se realizou em setembro foi muito proveitosa. | b) A ação de formação que se realizou em setembro foi muito proveitosa. |
(3) A ação de formação que se realizou em setembro, foi muito proveitosa. | c) A ação de formação que se realizou em setembro foi muito proveitosa. |
(4) A ação de formação, que se realizou em setembro foi muito proveitosa. | d) A ação de formação, que se realizou em setembro, foi muito proveitosa. |
• Se em (1) o erro é grosseiro, em (2) a situação é diferente.
Se o modificador do nome (destacado) for restritivo, não se colocará qualquer vírgula (b, c); se for apositivo, haverá
lugar à colocação de duas vírgulas – como se ilustra em (d).
O que nunca poderá ocorrer é a colocação de vírgula apenas no início da oração (2 e 4) ou apenas no seu termo (3).
Quadro 2
Pontuação incorreta |
Pontuação correta |
(1) Os alunos falaram, de forma resumida dos problemas da turma. | (a1) Os alunos falaram, de forma resumida, dos problemas da turma. (a2) Os alunos falaram dos problemas da turma, de forma resumida. |
(2) Concordo em geral, com a Maria. | (b1) Concordo, em geral, com a Maria. (b2) Em geral, concordo com a Maria. (b3) Concordo com a Maria, em geral. |
(3) Comprei um livro de aventuras, ao meu primo. | (c) Comprei um livro de aventuras ao meu primo. |
(4) Meti o livro, na gaveta | (d) Meti o livro na gaveta. |
(5) O Professor disse, que o teste era fácil. | (e) O Professor disse que o teste era fácil. |
• Na frase (1), o verbo falar seleciona preposição de (falar de alguém ou de alguma coisa) – o que faz com que não seja possível separar o complemento selecionado, «dos problemas da turma», do verbo. O modificador «de forma resumida» terá assim de aparecer entre vírgulas (a1) ou separado por vírgula do complemento (a2).
• Na frase (2) a situação é semelhante à anterior, uma vez que o verbo concordar seleciona preposição com. Assim, qualquer modificador que exista na frase terá de ser sempre separado por vírgulas do complemento «com a Maria» (exemplos b1, b2 e b3).
• Na frase (3), o verbo comprar seleciona complemento direto «um livro de aventuras» e indireto «ao meu primo», pelo que não é possível separar complementos através de vírgula.
• Na frase (4) a situação é igual à anterior: os dois complementos selecionados pelo verbo comprar (direto «o livro» e oblíquo «na gaveta») não podem ser separados por vírgula.
• Na frase complexa (5), a oração subordinada completiva «que o teste era fácil» exerce a função sintática de complemento direto do elemento subordinante «disse», pelo não é possível a sua separação por vírgula.
• Os complementos de nome (não fazem parte do programa de 3.º ciclo EB) também não podem ser separados por vírgula do nome.
Ex.: «Comprei um livro, de aventuras ao João.»
Nota: o próximo post tratará de outros problemas de pontuação.