No Como pensar tudo isto? acreditamos que, quando se perdem de vista os problemas filosóficos, as teorias e os argumentos estudados deixam de ser entendidos como respostas possíveis para esses problemas e passam a ser encarados como um conjunto de informações para o aluno decorar. Assim, para favorecer um ensino verdadeiramente filosófico e crítico desta disciplina, e não uma mera retrospetiva da histórica do pensamento e das ideias, este capítulo desenrola-se em torno de problemas filosóficos fundamentais, sendo os textos e opiniões dos filósofos encarados como um contributo valioso para a discussão crítica e informada dos mesmos.
O capítulo dedicado à descrição e interpretação da atividade cognoscitiva gravita em torno de dois problemas centrais da epistemologia: O que é o conhecimento? e Será o conhecimento possível?
Primeira secção
A primeira secção do capítulo ocupa-se do primeiro destes problemas. Começa com uma experiência de pensamento e algumas questões a ela associadas, com o objetivo de despertar nos alunos a intuição de que existem diferentes formas de conhecer a realidade (clicar no anexo). Esta experiência de pensamento – e respetivas questões – também está disponível em vídeo e pode ser usada como ponto de partida para a discussão, através da sua visualização em sala de aula ou em casa, como trabalho de preparação para a discussão a desenvolver na aula seguinte.
Em seguida, o conhecimento é descrito em traços gerais como uma relação entre dois elementos: o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Para clarificar esta relação, partimos de enunciados que exprimem conhecimento (que podiam muito bem ter saído da boca dos alunos durante uma aula) para identificar diferentes formas que essa relação pode assumir e, a partir daí, caracterizar os diferentes tipos de conhecimento: o conhecimento por contacto, o conhecimento prático e o conhecimento proposicional (ver anexo).
Este tipo de estratégia tem por objetivo aproximar os conteúdos do manual do ambiente vivido em sala de aula, de modo a favorecer a transposição das aprendizagens realizadas nesse contexto para os momentos de trabalho e estudo autónomo. O tom de permanente diálogo e interpelação do aluno potencia esse efeito e traduz-se numa efetiva aprendizagem por descoberta, fundamental para a aquisição segura de conhecimentos.
A análise do conhecimento proposicional de acordo com a definição tripartida de conhecimento será levada a cabo através de exemplos próximos das vivências dos alunos, dando especial destaque às ideias-chave desta definição. Por fim, procede-se a uma avaliação crítica desta definição através do seu confronto com os contraexemplos de Gettier.
Segunda secção
A segunda secção deste capítulo trata do problema da possibilidade do conhecimento e, a este respeito, optou-se por apresentar o desafio cético como forma de explicitar o problema a que as teorias de Descartes e Hume procuram responder.
À semelhança do que acontece com a primeira secção, também o problema da possibilidade do conhecimento pode ser lançado à discussão através da experiência de pensamento que antecede o desenvolvimento dos conteúdos (também ela disponível em vídeo animado). Desta vez, a experiência selecionada foi a do “Cérebro numa cuba de vidro”, pois desperta nos alunos a intuição de que até os conhecimentos aparentemente mais seguros podem ser postos em causa.
Em seguida, dá-se início a uma caracterização da posição cética relativamente ao problema da possibilidade do conhecimento e apresenta-se o argumento cético da regressão infinita (ver anexo). Este argumento será primeiramente apresentado de uma forma bastante intuitiva e familiar para todos aqueles que já conversaram com uma criança na idade dos “porquês” e posteriormente será explicitamente formulado com todas as suas premissas e a sua conclusão.
As principais objeções são discutidas no corpo do manual – a objeção de Russell e a objeção fundacionalista (esta última fará a ponte para as teorias de Descartes e Hume) – outras são detalhadamente exploradas no Guia do Professor como conteúdo opcional – objeções levantadas pelo coerentismo, pelo contextualismo, pelo infinitismo e pelo externismo epistemológico.
No ponto seguinte, procede-se a uma exploração detalhada do itinerário cartesiano da dúvida à certeza, com paragens em todas as estações e apeadeiros, de modo a apoiar o aluno na compreensão das subtilezas do percurso. Aqui são dadas ao professor diferentes possibilidades de abordagem, pois, para além da explicação dada pelo texto didático, oferecem-se textos de Descartes bastante acessíveis para os alunos, bem como uma formulação explícita dos principais argumentos apresentados por este autor. O mesmo acontece relativamente à exploração do empirismo de David Hume.
Além disso, são apresentadas as duas principais experiências de pensamento utilizadas por estes autores, nomeadamente a experiência do “Génio Maligno” (ver anexo), que Descartes utiliza para pôr em causa as evidências matemáticas, e a experiência do “Adão Inexperiente”, que Hume utiliza para justificar a ideia de que o princípio da causalidade é fruto do hábito ou costume. Ambas estão disponíveis em animação multimédia para mais facilmente captar a atenção dos alunos e favorecer a sua compreensão.
Depois de devidamente compreendida, cada uma destas teorias é alvo de uma rigorosa avaliação crítica, ao longo da qual serão discutidas as principais objeções que enfrentam. Contrariamente ao que por vezes acontece, não nos limitamos a listar um conjunto de objeções enunciando apenas o seu nome.
Cada objeção é devidamente articulada e explorada de modo relativamente aprofundado, chegando muitas vezes a ser explicitamente formuladas sob a forma de argumentos (ver anexo).
Para além das experiências de pensamento referidas, existem outras experiências disponíveis no Guia do Professor e na componente multimédia do projeto, algumas delas referentes a objeções, outras ilustrativas de alguns aspectos-chave das teorias discutidas.
A Equipa
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