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A história do peru de Natal indutivista
Inserido em 2012-12-18  |  Adicionar Comentário

Stephen Law, The Xmas Files, The philosophy of Christmas, Weindenfeld & Nicolson, 2003

O subtítulo deste livro de Stephen Law, datado de 2003 (2.ª edição), pode ser enganador. De facto, não existe nenhuma filosofia do Natal, pelo menos de forma sistemática e organizada. Então qual a razão deste subtítulo?

O filósofo inglês pegou na temática do Natal para fazer uma simples e interessante introdução a alguns problemas clássicos da filosofia.

São 14 capítulos, todos eles partindo da análise do Natal como época festiva. O autor procura dar resposta a problemas como:

• Até que ponto somos altruístas quando oferecemos presentes no Natal?
• Será moralmente aceitável comer o peru na noite de Natal?
• Até que ponto a mensagem de paz de Natal é uma boa mensagem?
• Será que os ateus podem celebrar o Natal de forma consciente?
• Até que ponto é racional aceitar que Cristo seja um mensageiro divino nascido de uma virgem?                                                                 

 


Para abrir o apetite, desvendamos algo do capítulo 11, precisamente onde Law aborda o famoso problema da indução. E começa exatamente com a história atribuída a Bertrand Russel a que se pode chamar história do peru indutivista.

Assim, imaginemos um peru que desde que nasceu é alimentado todos os dias às 8 da manhã. Faça sol, faça chuva, domingos e feriados, o peru habitua-se a ser alimentado todos os dias a essa hora. Logo, pela experiência repetida, o peru acaba por esperar todos os dias o seu alimento. Até que chega ao dia de Natal.

O que levou o peru a concluir que continuaria a receber o seu alimento à mesma hora foi o hábito ou a experiência passada, o que o leva a concluir que no futuro tudo se passará como no passado. Trata-se de um raciocínio indutivo por previsão. Acontece que neste tipo de raciocínio, a verdade das premissas torna somente provável a verdade da conclusão. A moral da história é que nunca podemos prever acontecimentos futuros com rigor tendo como base as experiências passadas. Este argumento está na base do ceticismo moderado defendido por David Hume.

O livro de Stephen Law está recheado (como o peru de Natal) de histórias destas que nos fazem pensar sobre problemas elementares da filosofia. Trata-se de um olhar divertido, mas ao mesmo tempo sério sobre os problemas filosóficos em torno das nossas tradições e valores veiculados no Natal. Trata-se de olhar de uma forma filosófica para essas tradições natalícias.

Pelo menos depois de ler este pequeno livro, já não vamos saborear mais o peru da ceia de Natal sem antes pensar o quanto foi enganado o pobre animal pelo indutivismo.

Para conhecer um pouco melhor este livro e o seu propósito, o melhor mesmo é começar por ler esta entrevista dada por Stephen Law a Nigel Warburton, onde explica a razão de ser do The Xmas Files (ver aqui).



Rolando Almeida

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