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Não habitamos outras mentes – estratégias para a sala de aula
Inserido em 2012-12-06  |  Adicionar Comentário

Seria um exercício interessante imaginar e inventar experiências mentais sobre como seria a nossa compreensão do mundo se pudéssemos habitar a mente dos outros. Se isso acontecesse, o mundo era necessariamente muito diferente.

Mas a intenção deste texto não é essa, é antes saber o que acontece na sala de aula em consequência de não habitarmos outras mentes.

Tal como conhecemos o mundo, levantam-se inúmeros problemas comportamentais, morais, epistémicos, metafísicos, etc. A falta de acesso a outras mentes é também um dos problemas que atravessa a tarefa de quem ensina os mais jovens e, sobretudo, de quem faz do ensino a sua profissão e passa a maior parte do tempo da sua vida ocupado com questões ligadas ao ensino.

 

Pintura de Hans Jorgen Henriksen

Isto por uma razão simples de compreender: o professor ajuíza se o estudante está ou não a seguir a aula e avalia as atitudes em relação à aula em resultado da sua observação.

Há evidentemente dados empíricos fortes que permitem esta análise ao professor de um modo mais preciso. O aluno que passa a maior parte do tempo na conversa com o colega do lado não está, claro, a seguir a aula. Mas o que acontece quanto ao aluno que está sossegado a seguir a explicação do professor? Será que está realmente atento e a seguir a aula? De que critérios seguros de observação dispõe o professor para avaliar a atitude do estudante?


Intuitivamente quase todos os professores consideram que este último caso retrata bem o perfil do estudante atento e interessado na aula. Mas na verdade, o professor dispõe de poucos dados para além da sua intuição para estar seguro de que o aluno realmente segue a aula. Há, com efeito, algumas estratégias disponíveis para apurar estes dados com maior rigor.

Centremo-nos numa aula de filosofia com uma turma de 26 alunos. Se a aula for desenvolvida segundo a metodologia da discussão ativa, apelando à participação dos estudantes na discussão de teorias que tentam resolver um problema, os estudantes atentos provavelmente tentarão dar o seu contributo com intervenções orais, ora discordando, ora concordando com a teoria ou, de outro modo, colocando dúvidas sobre uma dada teoria em disputa.

Mas o que acontece com os estudantes menos participativos? Nesses casos, de que estratégias dispõe o professor?

Um bom recurso é pedir a esses alunos a sua participação, colocando, por exemplo, uma questão à qual deverão dar uma resposta. O problema é que a esmagadora maioria dos professores consideram que esta prática é difícil de concretizar em 90 minutos de aula com 26 alunos.
                                                                                                                                                    Pintura de Niko Tarka

Assim, proponho aqui uma estratégia algo diferente e que pode produzir alguns resultados. Uma boa estratégia consiste em pedir a todos os estudantes que digam, numa frase apenas, o que pensam sobre o problema. Se o professor está a lecionar o problema do livre-arbítrio, pode pedir aos estudantes que defendam uma posição, seja ela compatibilista ou incompatibilista. Todos os estudantes têm, por isso, de intervir.

Ainda assim, poderá ser insuficiente, pois os alunos sossegados, mas desatentos, vão imediatamente regressar à sua zona de conforto após ter dito a frase pedida. Há ainda outro recurso interessante para estimular a atenção de todos – ao mesmo tempo que cada aluno vai dizendo a sua posição, é pedido pelo professor aos outros que escolham uma das frases para discordar no final. Assim, todos vão ter novamente de participar, apresentando uma objeção à frase de que discordam.

Não existem estratégias que permitam tornar esta observação infalível. Há sempre zonas cinzentas de atenção à aula que um professor não pode nem consegue dominar por muitos e bons conhecimentos que tenha. Mas são pequenas estratégias de diálogo como estas que envolvem o aluno no miolo da aula e acabam por captar a atenção de mais estudantes, evitando a dispersão e a falta de atenção. Trata-se sobretudo de estratégias que devem ser incentivadas numa aula de filosofia, pois o melhor acesso que temos à mente do outro é dar espaço para que exponha aquilo que pensa sobre os problemas que estão a ser propostos pelos filósofos para debate.


Brevemente procuraremos debater o uso das novas tecnologias nas aulas de filosofia – para que servem, sugestões de uso e se há vantagens na sua utilização.


Rolando Almeida

 

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