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Do mesmo modo que o professor de educação física expõe as regras do jogo que se irá desenrolar nas aulas, assim o professor de filosofia pode partir daí, da exposição das regras com que se faz filosofia. Um bom pressuposto para tal é ensinar noções básicas da argumentação crítica, evitando, pelo menos nesta fase, o jargão da lógica, ainda que não se dispensem alguns conceitos invioláveis, como os que acima referi: verdade, falsidade, validade, argumento, proposição, etc. A prática é o número de exemplos e argumentos apresentados nas aulas destinados a levar o estudante a começar a percecionar com alguma clareza aspetos nucleares da argumentação filosófica. Isto realiza-se tanto melhor quanto o professor tiver em mente as competências fundamentais da disciplina, que aqui resumo a três:
Como fazê-lo, então? O professor de filosofia pode praticar filosofia desde a primeira aula. Quando confrontado pelos estudantes sobre a utilidade da disciplina, pode, por exemplo, começar por discutir a definição do que é uma coisa útil e se tal definição pode ser objetiva. Se o professor conseguir passar 45 minutos com esta discussão, apelando sempre aos estudantes que refutem as posições com que discordam, está já a dar, creio, um forte contributo para a compreensão da utilidade da disciplina. Ao fim de 45 minutos, dos 25 estudantes perplexos, terá pelo menos 15 que compreendem que a filosofia os pode ajudar a afinar conceitos e a remodelar argumentos. Este é um bom ponto de partida para seguir em frente, na filosofia da ação, a unidade que se segue no programa e na qual os estudantes terão a oportunidade de discutir alguns aspetos do problema do livre-arbítrio. De uma forma muito geral, os maiores obstáculos iniciais no ensino da disciplina de filosofia têm duas causas:
Mas nós sabemos que a ciência não tem respostas sem problemas, e que se fizéssemos perguntas apenas para problemas cujas respostas já sabemos, não havia necessidade de se fazer perguntas. No miolo dos problemas racionais, está sempre a filosofia. Com a filosofia utilizamos o equipamento que temos, o cérebro, para pensar de forma rigorosa e sistemática os problemas para os quais ainda não podemos oferecer respostas. Sobretudo, a filosofia dissipa os falsos problemas para, no seu lugar, nos ocupar a mente com problemas reais.
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